Redes sociais ajudam a contornar a solidão no Natal

Um divórcio inesperado afastou-a da família e hipotecou a possibilidade de casa cheia na noite de Consoada, pelo terceiro ano consecutivo, escreve a Lusa.
Apesar de tudo, H.F., de 36 anos, sem filhos, garantiu à Lusa que essa «aparente solidão não colide com o espírito festivo» do Natal, já que a internet, também ela «causadora» do divórcio conturbado, a impede, «totalmente», de «passar a Consoada sozinha».

«Nunca há solidão nas redes sociais», explicou a professora do ensino secundário, que pediu o anonimato, «para não mostrar aos alunos um dos muitos lados do Natal».

Afastada da rede familiar e dos amigos de infância pela deslocalização que a profissão obriga há 15 anos, H.F. é umas das primeiras portuguesas com conta no Twitter e foi passando «os melhores amigos» para o Facebook e outras redes.

«No Twitter mantenho a mesma alcunha desde o início, mas desde que comecei no Facebook que tenho utilizado o nome real e, apesar de algumas defesas com a privacidade, mostro muito de mim», disse.

Algarvia, mas a residir na zona Norte, vai passar o Natal em casa, «sozinha, mas muito bem acompanhada».

«O ritmo da vida, só por si, já obriga a um grande afastamento da família. Nos primeiros anos de namoro e durante o casamento (que durou dois anos), alternávamos com a casa dos meus pais e com a casa dos pais dele. Acho que todos os casais são assim. Mas, nos últimos três anos, passo o Natal na internet», desvenda.

Embora «possa parecer estranho», a professora garante a existência de centenas de pessoas que fazem o mesmo.

«Alguns, mesmo em casa de alguém ou com a família, não largam a "net". Tenho a sorte de ter uma rede muito heterogénea e, se for como nos outros anos, quando der por ela são horas de ir dormir», diz, quem navega, habitualmente, seis horas por dia em frente ao ecrã.

Nada dada a sentimentalismos, diz ainda que a internet é um «mundo novo» e que, com o «aparecimento das redes sociais», toda a «gestão da amizade é feita de outra forma».

«Bem, se me perguntar se gostaria de ter a casa cheia, se calhar respondia que sim. Mas se passo o ano inteiro a partilhar a minha vida com amigos que fui criando na net, faria sentido afastar-me deles no Natal?».

iol